Ficha Técnica

A Curva de uma Vida, Manuscrito, 1938

A Curva de uma Vida

“Caía a tarde e nós descemos. Daquela altura o mundo era belo. Acamadas, as serras mais baixas alçava os bicos numa ameaça ao céu, encostando-se umas à outras em união de forças. Ao fundo, na lisura do vale, remendado de verdura, havia pintas de cor indecisa, que marcavam casas de aldeia e linhas ténues que indicavam estradas de curvas apressadas, de trânsito difícil. E para o lado direito do monte que pisávamos corria precipitadamente a encosta até a uma garganta funda e estreita que rasgava a montanha. Para a frente, na fita distante do horizonte, o Sol esbraseado lançava o fogo ao céu de nuvens leves.” Vergílio Ferreira (A Curva de Uma Vida)

“O facto de ser o primeiro testemunho da prosa vergiliana despertou-me, no seu manuseamento, o interesse não só pela sua leitura mas sobretudo pela coerência aparentada com os demais materiais do acervo: a mesma caligrafia miúda, irrequieta, invadindo o suporte de margem a margem, a numeração acantonada à direita, em cima, a disposição da informação na folha de rosto, inscrevendo o texto no tempo e espaço da feitura, as variantes de título, os vestígios das (re)visitas ao manuscrito. Foi com surpresa que verifiquei que o seu primeiro escrito incluía no texto ficcional da novela outros tipos de registo: o epistolar, o diarístico e o lírico, os dois últimos em passagens de alegado diário e ‘livrito’ de poemas, pertença da personagem Amadeu.”