Ficha Técnica

Aparição. Lisboa : Portugália Editora, 1959

Aparição

“Portanto eu tinha um problema: justificar a vida em face da inverosimilhança da morte. E nunca até hoje eu soube inventar outro.”, Vergílio Ferreira (Aparição)

“A evidência da vida não é a imediata realidade, mas o que a transcende e estremece na memória. A minha memória está cheia. Da janela do comboio olho a montanha ao longe, branca de espaço, olho as matas de pinheiros, o chão trágico de pedras. Tento reconhecer aí o que é vivo e relembra, o que dura e aparece nos instantes de alarme.”, Vergílio Ferreira (Aparição)

a vida do homem é cada instante – eternidade onde tudo se reabsorve, que não cresce nem envelhece –, centro de irradiação para o sem-fim de outrora e de amanhã. O tempo não passa por mim: é de mim que ele parte, sou eu sendo, vibrando.”, Vergílio Ferreira (Aparição)

“Justamente o meu encontro com a minha pessoa e a fascinação que tal descoberta em mim operou. Vivemos normalmente à superfície de nós. A presença de nós a nós próprios tem algo de extraordinário, de miraculoso. Assim, Aparição surgiu-me como a necessidade de abordar e de fixar o que há de novo e perturbante nesse encontro com a pessoa que nos habita.”, Vergílio Ferreira (Um Escritor Apresenta-se)

“Pois bem: Vergílio Ferreira atingia na Aparição um ponto de equilíbrio por assim dizer miraculoso entre o estilo e o material humano. Localizando numa pequena cidade de província a ação do seu romance, nem por isso se via obrigado a transigências de linguagem que se tornassem compatíveis com o possível provincianismo dos costumes. E foi esta a razão porque ousei comparar a circunstância do aparecimento de Aparição com a circunstância do aparecimento de O Crime do Padre Amaro.

(…)

Vergílio Ferreira encontrava finalmente o ponto de acordo dos seus recursos e intenções intelectuais com as disponibilidades do meio suscetíveis de ser transpostas para as páginas de um romance.

(…)

Verdadeira Aparição, no fim de contas, de tudo quanto entra na perspetiva de um conceito de vida que a própria revelação do homem ao homem acaba por consolidar numa visão tão precária como é a da existência desvalorizada pela convizinha inexistência – a Morte –, a matéria estilística do romance de Vergílio Ferreira constitui, sem dúvida alguma, um dos argumentos mais sólidos para a justa identificação de uma carreira de escritor com uma carreira de filósofo.”