Em Nome da Terra
“Estou agora num lar de repouso, chama-se assim numa tabuleta e na lista telefónica. Não estou mal. Há cá imensa gente a repousar, não estou. Mas muitos não querem. Têm a mania de estar vivos com as suas coisas à volta a dizerem-lhes que sim, não querem. Algumas velhas choram, vê tu, aquilo é que é uma mania.” (Vergílio Ferreira, Em Nome da Terra)
“A gente chega ao fim, que é quando já não tem embalagem para haver mais futuro, e então senta-se. Estou sentado. Olho à volta, da frente para trás, que já não há mais frente para olhar. (…) As coisas aconteceram, fazem-se acontecer outra vez. Sobretudo o que valeu a pena e nos pôs um pouco de contentamento na alma. Purificar as coisas das chatices que também lá estão. Ou lembrá-las também a elas mas pôr-lhes à volta uma moldura de desculpa ternurenta. Um dia pensei: quando deu na bolha a Deus para criar isto por desfastio, soube a palavra para o efeito. E então eu digo – deve haver uma palavra sagrada para tudo, a questão é saber onde é que está. Mesmo o que é chato ou feio ou podre, se a gente souber a palavra certa deve ficar belo à mesma.” (Vergílio Ferreira, Em Nome da Terra)
Ficha Técnica
Em Nome da Terra, Circulo de Leitores, Lisboa, 1991