Ficha Técnica

Onde Tudo Foi Morrendo. Coimbra : Coimbra Editora, 1944.

Onde tudo foi Morrendo

“Pela janela aberta vem a poesia da dispersão. Tudo se calou naquela hora sombria. E longa. As árvores quedaram-se, transidas de frio, de braços nus erguidos ao céu. (…) Então os homens ficaram tristes, olhando, em silêncio, a planície sem fim. Rostos enegrecidos, barba crescendo, negra e negra, sempre crescendo, olhos necessitados inundando o ar…

(…)

Lamentos de uma angústia torva. Por isso o azul do céu foi sorrir para as terras do Sol. E a aldeia começou a fugir também para as terras do Sol. Só aquela janela aberta olha a tristeza das árvores abandonadas e derrama na saleta escurecida a desolação do Outono.”, Vergílio Ferreira (Onde Tudo Foi Morrendo)

“Mãos nas algibeiras, gola erguida, Joaquim vagueava pela aldeia abandonada e triste. Queria não olhar a casita, agora mais apagada à luz ténue da lua branca, mas uma força desconhecida lhe arrancava os olhos no chão e o fazia parar ao fim da rua, ao ribeiro, em todo o lado enfim donde pudesse contemplar uma telha, uma janela da casa que fora sua. Veio assim, ao sabor daquela força, contornando a aldeia até ao muro do quintal, onde se sentou. Sobre a terra endurecida, lavada em luar, as oliveiras pequenas derramavam nódoas de sombra. Muda e triste branquejava a casita, com a porta larga da cozinha virada para o quintal, as janelas fechadas como olhos de um morto, a empena erguida vaidosamente sobre os telhados vizinhos…”, Vergílio Ferreira (Onde Tudo Foi Morrendo)

“O meu primeiro livro foi o meu segundo (o primeiro, embora impresso, não chegou a sair). E as críticas a que deu motivo desorientaram-me bastante. Houve quem o elogiasse, mas não por aquilo que eu supunha e desejava. Como houve, também, quem impiedosamente, apanhando-o ingénuo e desarmado, malhasse nele com prazer. Foi uma rude experiência. Para uma segunda edição projetada, lembra-me que o mutilei sem dó. Assumir conscientemente a nossa personalidade é o termo habitual do ciclo de uma evolução.”, Vergílio Ferreira, (Um Escritor Apresenta-se).

“O romance dá-nos toda uma aldeia – com os seus ódios, as suas intrigas, as suas classes sociais. A vida das personagens entrecruza-se, interpenetra-se; os acontecimentos encandeiam-se, intercetam-se verosimilmente. Por isso a contextura do romance apresenta unidade, concatenação e equilíbrio”