Ficha Técnica
Sobre o Humorismo de Eça de Queirós. Coimbra : Faculdade de Letras, 1943
Sobre o Humorismo de Eça de Queiroz
“Se pusermos de lado o riso pelo riso, o cómico que por si mesmo se justifica, e atentarmos apenas no riso provocado pela discordância do humorista com as realidades que o cercam, havemos de convir em que o riso é útil.
É essa discordância, esse choque do escritor com o mundo real, que enobrece o humorismo com aquela seriedade tantas vezes referida, que segundo Eça adjudica ao ‘espírito’ o valor de um raciocínio e, na frase de André Brun, faz pensar. Que os romances queirosianos revelam a discordância do autor com a realidade – é de sobejo evidente. Uma observação importa, no entanto, desde já fazer, e é que, servindo-se Eça do riso e discordando da vida que nos mostra nos seus livros, o humorismo do escritor não penetra, estranhamente, no centro dos seus romances, para tão só aflorar a periferia dos mesmos.” Vergílio Ferreira (Sobre o Humorismo de Eça de Queirós)
“Examinemos agora, mais de perto, a estética humorística de Eça de Queirós.
(…)
Se todavia, pretendêssemos sistematizar tais processos, diríamos que, na sua maioria, assentam ultimamente no contraste.
Tal processo, determinando a estrutura de algumas obras, inspira também o cómico da frase. Mas anotemos desde já que o contraste em Eça busca quase sempre uma oposição de máximo e mínimo, numa predileção teimosa pelo pormenor.” Vergílio Ferreira (Sobre o Humorismo de Eça de Queirós)