A Universidade da Beira Interior (UBI) assinalou o centenário do nascimento do escritor Vergílio Ferreira com um colóquio intitulado “Os lugares de Vergílio Ferreira”. A iniciativa decorreu no auditório da Biblioteca Central da UBI e na Biblioteca Municipal da Covilhã, no dia 9 de março.

Segundo Gabriel Magalhães, membro da organização, o evento resulta de uma tentativa de se fazer “ouvir na Covilhã a voz de Vergílio Ferreira”. Naquele, participaram especialistas que fizeram várias reflexões sobre a obra do escritor e que tiveram como missão “apontar caminhos para nós a entendermos melhor”, explica.

O docente da UBI destaca ainda a forma como esta ação teve a capacidade de envolver diversas entidades, tais como “a UBI, a câmara, as bibliotecas existentes na cidade e a Academia Sénior. É a cidade da Covilhã que realmente decide lembrar Vergílio Ferreira”. Também salienta que este escritor nascido na localidade de Melo, pertencente ao concelho de Gouveia, “foi aquele que pôs uma nova Serra da Estrela, uma Serra da Estrela metafísica no mapa da literatura portuguesa e isso tem um enorme mérito”.

Neste sentido, devido às suas origens, a Câmara Municipal de Gouveia tem encetado, desde o ano passado, várias reuniões “que sensibilizaram muito várias instituições do ensino superior, não só nós, mas também a Universidade de Évora para a importância destas celebrações”, refere. Deste modo, revisitar a vida e obra do autor beirão, em ambiente académico “é muito importante, uma vez que a universidade tem a missão de conservar a cultura de um país”, reitera.

O escritor Miguel Real foi um dos oradores deste colóquio, e afirma que Vergílio Ferreira “veio revolucionar o romance português do século XX. Ele submete o espaço ao tempo, ou seja, desenvolve o narrador existencial, cuja problemática fundamental não reside no que se passa na sociedade, na vida política, desportiva, ambiental, mas sim o que se passa no interior do próprio pensamento do narrador, ou seja aquilo que ele chama a aparição, ou a revelação de si a si próprio”, acrescenta.

Com a comunicação designada de “Vergílio Ferreira em Lisboa e Sintra”, menciona que “Lisboa está vagamente representada, quer dizer aparece sempre nos romances por ser a capital. Sintra, sobretudo está representada de uma maneira simbólica, é apresentada como o grande jardim de Portugal, portanto o encontro da serra com o mar deu origem a um jardim. Esta definição lapidar, lírica, poética, de Sintra define-a para sempre”.

Na sua intervenção, a docente da UBI, Cristina Vieira, abordou a representação de um micro espaço, mais concretamente a casa, na obra com o título Em Nome da Terra, de Vergílio Ferreira. Neste caso, “a casa aparece sobretudo não como espaço de pertença, de afetos, mas como espaço de privação, uma vez que o narrador personagem está encerrado, à sua revelia num lar de idosos, institucionalizado, e onde é privado de tudo aquilo que um lar simbolicamente significa, é privado de liberdade, de afetos e de tomar as suas decisões”, diz. Por esta razão, o romance “faz-nos meditar sobre a condição a que os nossos idosos ainda hoje estão votados. É uma reflexão filosófica e existencial que este autor deixa para todos nós e que merece ser lido e meditado por todos”, sublinha.

Do programa do colóquio fez ainda parte a inauguração de uma mostra bibliográfica sobre Vergílio Ferreira na biblioteca da UBI, a leitura encenada, realizada pelos jubilados da Academia Sénior, de um conto do autor intitulado “A Galinha” e a participação como oradores de nomes como Jorge Costa Lopes, Sandra Morais, Manuel da Silva Ramos, Alípio de Melo e João Morgado.

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