Foi no dia 25 de agosto de 1943 que acabou de imprimir-se o primeiro romance de Vergílio Ferreira, O Caminho Fica Longe – terminado, porém, no mês de dezembro de 1939, em Melo.
Ao assinalar a passagem dos 75 anos deste romance de estreia, recordamos ainda os 25 e os 50 anos de vida literária de Vergílio Ferreira, celebrados, respetivamente, com as edições especiais de Aparição, em 1968, e Para Sempre, em 1993, ambas ilustradas por Júlio Resende, com conceção gráfica de Armando Alves e editadas por Cruz Santos. Nos 50 anos de vida literária, a Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em parceria com a Fundação Eng.º António de Almeida, promoveu um colóquio de homenagem ao autor, organizado por Fernanda Irene Fonseca que prefaciou, de igual modo, a edição especial de Para Sempre, atrás indicada.
Em 2016, aquando das Comemorações do Centenário do Nascimento de Vergílio Ferreira, promovidas pelo Município de Gouveia, a Quetzal reeditou O Caminho Fica Longe, com um prefácio de Helder Godinho e fixação do texto a cargo de Ana Isabel Turíbio – após ter realizado um trabalho crítico-genético que compreende as várias alterações introduzidas pelo autor para uma reedição que este, contudo, optou por não levar adiante. De facto, apesar de Vergílio Ferreira considerar, numa entrada do diário datada de 19 de setembro de 1970, que O Caminho Fica Longe poderia ser aceitável como livro de estreia, pois o “essencial de nós não se altera, não se improvisa”, logo entende, noutra entrada desse dia, que o mesmo acabou por se revelar, afinal, “detestável” em todas as suas “infantilidades [e] ingenuidades de lirismo”. Para Helder Godinho, porém, este “primeiro romance é muito importante porque contém já alguns aspectos fundamentais do que será a temática de todo o Vergílio Ferreira futuro, que, de resto, já aparecia, também nos próprios poemas da adolescência”.
Quase dois meses decorridos após sair da gráfica, mais concretamente a 18 de outubro de 1943, a censura autorizava a comercialização de O Caminho Fica Longe, mas com cortes, acabando, todavia, por proibir, pouco depois, em 30 de outubro, a sua circulação. Destaque-se, por último, no relatório do censor, além dos elogios à escrita do então novel romancista, a necessidade de serem eliminadas as partes mais obscenas e, aspeto em que se mantém particularmente intransigente, as referências ao suicídio nas páginas 261, 299 e 307 da edição deste primeiro romance vergiliano, publicado há 75 anos.