Apenas Homens
“Eis que te procuro agora como nunca, te espero agora como nunca. Se tu viesses… A casa fica no meio de oliveiras e de um quintal de verdura. O tempo não passa por ela distraído, e demora-se sempre um pouco. Quando é pela primavera, há flores nas macieiras e pintainhos novos pelo pátio. E quando é o verão, há as manhãs solenes, e quando é o outono, o ouro das colheitas. Lembro essas manhãs e o brilho fresco da água pelas noites sufocantes de julho, e o frémito da terra na hora do recomeço. Meu pai, quando parti, disse-me:
– Volta.
Minha mãe olhava-me em silêncio, dorida, e todavia serena como se detivesse o fio do meu destino, ou soubesse, da sua carne, que tudo estava certo com a vida: o nascer, o partir, o morrer.
– Volta – repetiu ainda meu pai.
Eis que volto, enfim, nesta tarde de inverno, e o ciclo se fechou. Abro as portas da casa deserta, abro as janelas e a varanda.” (Vergílio Ferreira, Apenas Homens, “Carta”)
Ficha Técnica
Apenas Homens, Inova, Porto, 1ª Edição, 1972