Vergílio Ferreira – Escrever e Pensar ou O Apelo Invencível da Arte reúne, ao todo, trinta e seis ensaios de especialistas e estudiosos nacionais e internacionais da obra do autor de Para Sempre, a que se juntam quatro testemunhos sobre o amigo e o escritor. Estamos, deste modo, perante um título que vem enriquecer o já longo capítulo dos estudos vergilianos, indubitavelmente um dos escritores com uma das maiores fortunas críticas da literatura portuguesa.

Constituído em cinco partes – “Da Impossível Ausência”, “Pensar e Escrever”, “Correlações Interdiscursivas, Interartísticas e Intertextuais”, “Do Mundo Original, entre o Dizível e o Indizível” e “Da Evocação” –, este livro resulta, como lemos na introdução a cargo dos Organizadores, do “trabalho exegético  desenvolvido por um vasto número de especialistas e estudiosos da obra vergiliana” que estiveram presentes no Colóquio Internacional Vergílio Ferreira – Escrever e Pensar ou O Apelo Invencível da Arte, realizado entre os dias 18 e 21 de maio de 2016, no Porto e em Gouveia. Nas palavras do Presidente da Câmara Municipal de Gouveia, Luís Tadeu Marques, este Colóquio “trouxe a Gouveia muitos dos investigadores que têm engrandecido o já extenso capítulo dos estudos vergilianos”, referindo ainda que um dos momentos mais emotivos do Colóquio “foi a visita a Melo, ou seja, à ‘aldeia eterna’ vergiliana. Efetivamente, a leitura da obra literária de Vergílio Ferreira poderá sempre ser acompanhada da aprendizagem do que chamou o ‘espírito do lugar’. Por esse motivo, o Município de Gouveia inaugurou, em agosto de 2016, o Roteiro Literário Vergiliano – integrado, como este Colóquio, no Programa Comemorativo do Centenário do Nascimento do escritor –, cerimónia que contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.”

Vergílio Ferreira – Escrever e Pensar ou O Apelo Invencível da Arte reúne, ao todo, trinta e seis ensaios de especialistas e estudiosos nacionais e internacionais da obra do autor de Para Sempre, a que se juntam quatro testemunhos sobre o amigo e o escritor. Estamos, deste modo, perante um título que vem enriquecer o já longo capítulo dos estudos vergilianos, indubitavelmente um dos escritores com uma das maiores fortunas críticas da literatura portuguesa. Deste vastíssimo leque de contributos, relevamos justamente os excertos de Fernanda Irene Fonseca (“Até à hora do fim: o ‘impossível repouso’”), que proferiu a conferência inaugural do Colóquio, e de Helder Godinho (“Vergílio Ferreira, a palavra e a ausência”), que encerrou o mesmo:

“Excesso, fascínio, inquietação: traços marcantes de uma relação com a Palavra que se materializa como vivência da escrita sentida como uma respiração do pensamento, como um gesto em que se gera o pensamento.

(…)

A vivência obsessiva da escrita assumiu, na fase final da obra de Vergílio Ferreira, um rosto e um nome: Sandra. A obsessão de escrever a Sandra surge como explicitação intensificada de uma constante do universo imaginário de Vergílio Ferreira, posta em relevo por Helder Godinho: a da criação, pela Palavra, da mulher amada já morta, para transformar em Presença uma Ausência que se esvaziou de sentido.” (Fonseca 2017: 20 e 23)

“A obra de Vergílio Ferreira é, em grande parte, marcada pela ausência, pela questionação que ela implica e pelas tentativas de a superar.

(…)

A ligação da figura paterna à ausência e os males que essa ausência traz acontece por toda a obra de Vergílio Ferreira, desdobrando-se a ausência ainda pela morte da colega amada de que Sandra ou Oriana são as melhores reencarnações (mas não as únicas). A título de exemplo, menciono que, logo no segundo romance, Onde Tudo Foi Morrendo, todos os males da família derivam da ausência do pai, que morreu, e Vagão J completa a fase neo-realista com um pai doente que é um empecilho para a sobrevivência da família.” (Godinho 2017: 545 e 547-548)

Vergílio Ferreira – Escrever e Pensar ou O Apelo Invencível da Arte, Organ. Ana Paula Coutinho, Isabel Pires de Lima, Joana Matos Frias e Jorge Costa Lopes, Câmara Municipal de Gouveia, Âncora Editora, Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, 2017, 591 pp.